Mais perto da falência, Avianca leiloa quase tudo

Para as companhias aéreas, os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, o de Cumbica, em Guarulhos, e o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, são ouro puro em termos de rentabilidade, demanda e número de passageiros. Mas são desses terminais que a Avianca Brasil precisará abrir mão para tentar ganhar uma sobrevida e escapar da falência.

Na próxima terça-feira, dia 7, os ativos mais valiosos da empresa irão a leilão presencial, na capital paulista. Serão oferecidos os slots (licenças de pousos e decolagens) da empresa por US$ 140 milhões, em dois grupos formados por sete blocos, chamados de UPIs. Cada grupo terá preço mínimo de US$ 70 milhões.

Além dos slots, irá a leilão todo o banco de dados e pontos do programa de fidelidade Amigo. A empresa não comenta quanto pretende levantar com suas ofertas, mas estima-se no mercado que a Avianca deverá embolsar cerca de R$ 800 milhões. “As UPIs são atrativas para qualquer empresa que queira arrematar. São licenças altamente rentáveis e cobiçadas pelas companhias aéreas nacionais e estrangeiras”, disse um executivo da Avianca, que pediu para não ter o nome revelado.

No caso do programa Amigo, não haverá preço mínimo para os lances. O banco de dados, com quase 3 milhões de clientes cadastrados, é o quarto colocado no mercado brasileiro, depois do Latam Fidelidade, Smiles e Tudo Azul.

Segundo fontes do setor, existe o interesse de fundos de investimento em arrematar o programa, assim como ocorreu no leilão das extintas Transbrasil e Varig. De posse de um grande banco de dados dos clientes, os fundos revenderam as informações para companhias aéreas, redes de varejo e bancos. “Trata-se de um ativo valioso em tempos de abertura do setor aéreo brasileiro para companhias estrangeiras”, afirma o consultor Thiago Novakoski, especialista no setor.

A Avianca deve cerca de R$ 2,7 bilhões às arrendadoras de aviões e, depois de uma disputa na Justiça, se viu obrigada a devolver quase toda sua frota. Das 57 aeronaves que tinha em novembro do ano passado, sobraram cinco.

Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a companhia tem hoje uma média de 39 voos diários. Há um ano, eram 280. A gestora americana Elliott, maior credora da Avianca, detém 74% da dívida. O plano de recuperação judicial definido pela Elliott foi aprovado na assembleia dos credores.

A crise da Avianca já se reflete no preço das passagens aéreas. Com a devolução das aeronaves e cancelamento de voos, a oferta de assentos em algumas rotas está caindo. Com isso, como no caso do trecho Rio-Salvador, o preço médio da passagem saltou de R$ 575, em abril do ano passado, para os atuais R$ 1.380. Os preços das passagens aéreas nas principais rotas da companhia já registram altas de até 140%.

As companhias Azul, Gol e Latam negam estar tirando proveito da queda da concorrente. Informaram apenas que trabalham com preços dinâmicos, que variam conforme antecipação da compra e sazonalidade, e que as tarifas são influenciadas pela cotação do dólar e pelo preço do combustível.

O que será vendido

» Lote A
    20 voos de Guarulhos,
12 voos do Santos Dumont e
18 voos de Congonhas

» Lote B
    26 voos de Guarulhos,
8 voos do Santos Dumont e
13 voos de Congonhas

» Lote C
    6 voos de Guarulhos,
6 voos do Santos Dumont e
8 voos de Congonhas

» Lote D
    6 voos de Guarulhos,
4 voos do Santos Dumont e
4 voos de Congonhas

» Lote E
    6 voos de Guarulhos,
4 voos do Santos Dumont e
9 voos de Congonhas

» Lote F
    23 voos de Congonhas

» Lote Programa Amigo
    Membros, banco de dados e contatos do programa

Fonte: Mega Leilões

 

MPF exige esclarecimentos

O Ministério Público Federal (MPF) pediu informações à Avianca Brasil e à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre as providências que vêm sendo tomadas para minimizar os prejuízos causados aos clientes da empresa aéreas em razão da crise instalada na companhia em recuperação judicial. Todos os voos da Avianca no Aeroporto Internacional de Confins, ontem, foram cancelados. Em Guarulhos (SP), funcionários foram demitidos.

O trader, profissional que opera na Bolsa de Valores, Robson Maciel estava inseguro com a incerteza de não conseguir embarcar hoje para Curitiba. Ele teve a informação de que o voo foi cancelado, mas a única opção oferecida foi um embarque na sexta pela manhã, o que o levaria a perder um compromisso profissional. “Na vinda de Curitiba para BH, dois dias antes do embarque, já avisaram que seria cancelado”, diz.

O objetivo da ação do MPF é possibilitar o acompanhamento e a fiscalização das medidas adotadas em relação aos transtornos causados aos passageiros por causa de atrasos e cancelamentos de voos pela Avianca. O MPF também questiona a atuação da agência diante das notícias de descumprimento da Resolução da Anac nº 400, que dispõe sobre as condições gerais de transporte aéreo.

Essa resolução da Anac prevê que o passageiro impactado por cancelamento pode optar pelo reembolso integral do valor pago pela passagem, pela reacomodação em outros voos da própria companhia ou de outra empresa que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino. Um dos funcionários em Confins afirmou que eles estão aguardando o leilão da companhia aérea para saber qual será a situação de seus empregos.



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