Novos conflitos de gerações em empresas familiares

As empresas de controle familiar enfrentam novos conflitos, provocados por mudanças de comportamento e mentalidade das jovens gerações de acionistas. Os millenials chegam às posições de liderança com mentalidade digital, espírito de propósito e preocupação com o impacto do seu trabalho. São qualificados e têm espírito empreendedor. Ao mesmo tempo, as gerações mais velhas chegam ao século 21 com experiência, produtiva e disposição para continuar em cargos de liderança.

“Líderes de 70 ou 80 anos não estão impedidos de fazer algo novo, nem fisicamente. E as novas gerações estão prontas para ocupar suas posições ainda muito jovens”, avalia John Davis, fundador e presidente do conselho de administração da Cambridge Family Enterprise Group. Davis palestrou no dia 3 de abril, em São Paulo.

Gerações mais velhas querendo realizar novos projetos e novas ávidas por liderar negócios criam um novo conflito entre gerações. “Hoje existe uma lacuna. A governança precisa ser atualizada [para tratar destas questões]”, afirma Davis. “Jovens qualificados e engajados devem ter oportunidade de assumir posições em conselhos”, completa.

Na avaliação do estudioso, os conselhos de administração também precisam se adaptar aos novos tempos. Os conselheiros precisam estar preparados para tomar decisões no mundo Vuca – acrônimo, em inglês, que reúne características intrínsecas da atualidade: volátil, incerto, complexo e ambíguo.

Tradicionalmente, o mindset predominante era o operacional, com foco na excelência da operação, na melhoria contínua de processos e produtos e crescimento dos seus negócios próprios. As famílias priorizavam a estabilidade e as mudanças eram gradativamente implementadas. Na realidade atual, as lideranças precisam adotar o que Davis chama de “mindset de dono”, onde o mais importante é o ganho de valor ao longo do tempo. Isso implica em desvincular os negócios de apenas uma atividade e não se apegar muito à tradição.

“Com o tempo, nos apegamos às coisas que conhecemos. O importante, no entanto, é ser como crianças, que querem apreender e mudar constantemente. Devemos entender que, se o negócio está com problemas, devemos mudá-lo”, recomenda Davis.

Os avanços tecnológicos exigem conselheiros que não foquem seu trabalho apenas em questões operacionais e financeiras. “O conselheiro precisa tomar decisões na velocidade necessária. Para isso, é preciso mudar as perspectivas e pensar de outras maneiras”, diz Davis. Segundo ele, é necessária a combinação de pessoas e talentos para enfrentar essa nova realidade, mas também para identificar e aproveitar as oportunidades que surgem neste contexto. “O problema é que as janelas de oportunidades estão cada vez menores”, alerta.



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